Thomas Bruno Oliveira*
A Pedra do Ingá é um dos mais impressionantes legados arqueológicos do mundo. Sua complexidade, constituição plástica e elevado requinte técnico de execução há décadas vem despertando a atenção da comunidade científica e aguçando a imaginação de oportunistas para seu suposto significado.
Centrado em um extenso afloramento em gnaisse que serve de leito para o riacho Ingá do Bacamarte, no agreste da Paraíba, este paredão é composto por inúmeras manifestações gráficas, impressas em baixo-relevo, de uma cultura desconhecida que, devido seus misteriosos desenhos e grande impacto visual, vem atraindo os mais diversos pesquisadores e curiosos seja para o estudo ou deleito reflexivo.
Diversos trabalhos já foram desenvolvidos sobre este monumento arqueológico. Alguns fundamentados em bases científicas e outros - vale salientar, a maioria -apresentam especulações de cunho sensacionalista. O que faz deste conjunto de inscrições um campo fértil para controvérsias e infindáveis polêmicas.
Não obstante, o conjunto de maior concentração gráfica e melhor aprimoramento estético encontra-se num paredão de 24m de extensão por 3m de altura, estendendo se para o dorso do afloramento e parte do piso que se inclina para sua base, onde constam inúmeras figuras. No entanto, na região de entorno deste conjunto, já tão descrito e opinado em meios bibliográficos, existem outras inscrições parietais que sempre são desprezadas nos trabalhos sobre a Pedra do Ingá por não se apresentarem tão profusas e bem acabadas como as do conjunto principal e, por isso, não atendem aos apelos corroborativos das explanações sensacionais.
Devido esta marginalização observada nos muitos trabalhos escritos sobre a Pedra do Ingá, decidimos conceituá-las de “inscrições marginais”. Porque são tratadas como se não existissem ou não se contextualizassem com o conjunto principal. No levantamento que fizemos no entorno da Pedra do Ingá, identificamos dezessete painéis marginais distribuídos nas superfícies rochosas de ambas as margens do riacho.
Esta metodologia de segregação para inscrições rupestres desde há muito vem sendo aplicada em trabalhos que visam estudar o universo gráfico de sociedades pré-históricas. Talvez por comodidade ou dificuldade de encaixá-las em modelos de estudo. Esta alternativa de omissão, ao nosso ver, tende a limitar a já delicada compreensão contextual da pré-história e, conseqüentemente, produzir falsos resultados.
*Acadêmico de História UEPB / Membro da Sociedade Paraibana de Arqueologia
thomasbruno84@gmail.com
Um comentário:
Parabéns pelo zelo científico. Boa sorte!
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