sábado, 28 de abril de 2007

Índios: algo a comemorar?

Germana Guimarães Gomes e Vanessa Monteiro Lucena*

Falar das tribos indígenas da Paraíba é falar de algo extremamente difícil, pois são poucos os estudos referentes a esses povos. O desejo em estudá-los é sempre questionado ou posto à prova quando nos deparamos com seu acervo documental, este é na verdade escasso e construído em meio a uma história distorcida, que os inferioriza colocando-os como indignos, animais, preguiçosos e aculturados. Vê-se, portanto, um enorme desafio para nós historiadores e para aqueles interessados em conhecer o mundo indígena, ou o que ainda restou dele.

Diversos são os questionamentos em torno dos estudos levantados sobre essas tribos paraibanas, isso acontece devido a pouca credibilidade das suas documentações. Segundo o historiador José Elias Borges em sua obra “Índios Paraibanos: classificação preliminar” há uma série de fatores que apontam para essa dificuldade como: a escassez bibliográfica, a destruição paulatina de arquivos e bibliotecas, as generalizações referentes à historiografia
paraibana entre outros.

Diante do exposto, pretendemos questionar o dia 19 de abril, data escolhida para comemorar o dia do índio. Mas será que há realmente o que comemorar? Será que neste dia nos recordamos de todas as atrocidades vividas pelo indígena? Será que nos lembramos que eles foram vítimas do colonizador, quando perderam suas terras e viram parte de sua cultura desaparecer e seu modo de vida ficar cada dia mais comprometida? E por que escolhermos um dia do ano para pensar ou repensar a vida indígena se eles estão presentes o ano
todo?
E é desta forma, que instigamos o leitor a refletir acerca desta data comemorativa, buscando, pois, questionar-se sobre ela. É preciso direcionarmos o nosso olhar para a situação do indígena hoje, incentivando assim políticas preservacionistas que possam contribuir para salvaguardar a cultura indígena, não só paraibana, mas também nacional.

*Acadêmicas de História – UEPB / vanessa_monteiro80@hotmail.com; ggermanag@hotmail.com

sábado, 21 de abril de 2007

Queimadas e seu patrimônio cultural

Thomas Bruno Oliveira e Melissa Teixeira*


Segundo a Constituição Brasileira, em seu artigo 216, o patrimônio cultural é formado por bens de natureza material e imaterial, tomadas individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. O Brasil possui um vasto patrimônio cultural, porém sua preservação está longe de ser a ideal. Mesmo possuindo todo um arcabouço legal que garanta a plena preservação, sua integridade é ameaçada tanto pela ação de vândalos quanto pela deterioração, decorrente de seu abandono.

A cidade de Queimadas, localizada no agreste paraibano, possui um rico patrimônio cultural que vai desde a significativa parcela da serra de Bodopitá, que possui diversos espécimes vegetais endêmicos e sítios arqueológicos pré-históricos, às edificações urbanas, muitas delas remontando fins do século XIX e início do XX. O patrimônio cultural da cidade há anos vem sendo depredado, sítios arqueológicos localizados no perímetro urbano como a Pedra do Touro, o Zé Velho e o Loca estão totalmente vandalizados, ao invés de inscrições rupestres os grandes blocos rochosos estão ornados com pichações que cobrem em quase sua totalidade os testemunhos dos primitivos habitantes da região. A Pedra do Zé Velho, imponente matacão com inscrições rupestres, por muito pouco não foi reduzida a fragmentos, já que era intenção de uma mineradora dinamitar o bloco.

O largo da igreja matriz possui o maior conjunto de edificações antigas da cidade, são casarões em estilo eclético onde podemos destacar o prédio que abriga o Colégio Maria Dulce Barbosa que, aliás, está entre as primeiras casas construídas na região. Contudo, muito se perdeu. Além de interessantes prédios que tiveram sua arquitetura descaracterizada, diversos imóveis não mais existem como o antigo terminal rodoviário às margens da BR 104. Em sua obra ‘Queimadas: seu povo, sua terra’, o Prof. Antônio Lopes menciona uma série de prédios que não mais existem às margens da BR 104 e da PB 148.

Mesmo diante deste relevante patrimônio cultural, percebemos o pouco interesse da população em manter viva esta memória, muitos estão alheios a sua própria história local. Por este motivo, consideramos de suma importância um intenso trabalho de educação patrimonial a fim de conscientizar a população da importância de se conhecer a cidade onde vive, para que assim a própria população se sinta personagem da história, se identificando com os lugares onde viveu e preservando aquilo que compõe a sua história local, pois um povo sem patrimônio cultural é um povo sem história.

*Acadêmicos de História UEPB / thomasbruno84@gmail.com ; historiamelissa@yahoo.com.br

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Dissecando: vida, obra e influência de Francisco de Assis França e sua importância para o movimento Mangue Beat (10 anos sem Chico Science)

Marcílo Ramos*

Nascia no dia 13 de Março de 1966, na cidade de Olinda, o Pernambucano Francisco de Assis França, vulgo Chico Science, líder da banda Nação Zumbi e principal líder do movimento surgido nos anos 90 batizado de Mangue Bit e mais tarde rebatizado de Mangue Beat. Seu apelido Chico Science veio da facilidade que o mesmo tinha em misturar diversos ritmos como: Coco, Ciranda, Embolada, Maracatu, Samba, Hip Hop, Black Music, Funk, Soul, Rock e Caboclinho. O movimento Mangue Beat conseguiu o que até então só a Tropicália tinha conseguido, que foi romper com a hegemonia da região Sudeste e de Brasília no mercado fonográfico do país. Os rapazes nordestinos conseguiram que o país e o mundo olhassem para eles e vissem a sua cultura e o seu som inovador. Os MangueBoys, como ficaram conhecidos os seguidores do movimento, sacudiram a cena recifense e resgataram a cultura que estava quase extinta, sem esquecer de estarem antenados com o mundo e aberto a novas idéias, preocupados com o social, o político, o geográfico e o histórico, enfatizando assim toda essa preocupação pelo crescimento desordenado da cidade do Recife, como o aterramento de seus mangues e a pobreza da população. Para exporem suas idéias lançaram em 1991 o manifesto "Caranguejos com Cérebro", escrito por Fred 04 e Renato Lins, onde se abordava toda essas preocupações com a cidade do Recife. Chico, em sua curta vida, gravou dois CDs (Da Lama ao Caos, em 1994, e Afrociberdelia, em 1996). Também compôs a trilha sonora do filme Baile Perfumado de Paulo Caldas e Lírio Ferreira. O mangue Beat foi retratado em um documentário dirigido por Bidu Queiroz e Cláudio Barroso, sendo um movimento cultural-artístico onde se fez a fusão da cultura popular e cultura de massa, estas entrelaçadas com a cultura exterior, tendo como ídolos o Sociólogo e Geógrafo Josué de Castro, figuras populares tais como Zumbi, Lampião, Sandino, Emiliano Zapata, e musicais como Afrika Baambata, James Brown, Grand Master Flash e Jorge Ben Jor. Os dois primeiros discos das duas bandas que começaram o movimento foram lançados simultaneamente em 1994 (Da Lama Ao Caos, de Chico Science & Nação Zumbi, e Samba Esquema Noise, do Mundo Livre S/A), ambos sucesso de crítica nacional e internacional. Infelizmente, no dia 2 de Fevereiro de 1997, no dia de Iemanjá, um acidente de carro na divisa entre Recife e Olinda tirou a vida de Chico Science, no auge de sua carreira, fazendo com que o carnaval local, famoso em todo o mundo, parasse. Mas o movimento continua vivo, firme e forte, influenciando intelectuais, músicos, etc. O símbolo do Mangue Beat, a parabólica enfiada na lama, permanece, representando, assim, a interação com o mundo, porém sem esquecer jamais das raízes. Várias bandas continuam representando o movimento, são elas: Nação Zumbi, Sheik Tosado, Mundo Livre S/A, Devotos, Jorge Cabeleira, Mombojó, Otto, Sangue de Barro, Eta Carinae, Querosene Jacaré, Silvério Pessoa, Mestre Ambrósio, Cascabulho, China, Siba e a Fuoresta do Samba, Dj Dolores, Cabruêra entre outras

*Acadêmico de História - UEPB / marcilo_ramos@hotmail.com